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Conheça os modelos de gerenciamento de resíduos nas indústrias madeireiras

Por muito tempo, as empresas não se preocuparam com as questões ambientais. Os resíduos gerados foram despejados na água, no solo e no ar sem nenhum controle.

Até determinado ponto o ambiente consegue diluir, decompor, reciclar, dispersar e reincorporar esses materiais. Entretanto, com o crescimento e diversificação das atividades industriais e com a concentração da população nas áreas urbanas, houve um aumento na geração de resíduos, da sua diversidade e complexidade, com um agravamento dos problemas relacionados à poluição.

Além da poluição do solo, da água e do ar, o manejo inadequado dos resíduos contribui para a degradação da paisagem; para a ocupação inadequada do solo; para o agravamento de problemas de saúde pública, com riscos à segurança e bem-estar da população; para os danos à fauna, flora e acervo histórico e cultural de determinadas regiões do país; e, para o aumento dos custos de coleta, tratamento, disposição final e recuperação das áreas degradadas.

Foi a partir da década de 1990 e, especialmente após a conferência Rio 92, que as questões ambientais ganharam cada vez maior importância na gestão empresarial, levando a uma redefinição de ações e responsabilidades corporativas.

Nos setores empresarial e financeiro, os vínculos das empresas e dos mercados com as questões ambientais são cada vez maiores e mais positivos. A questão ambiental começa a não mais ser tratada como uma “agenda negativa” ou “agenda marrom”, mas como uma oportunidade para agregação de valores à produção, com maior rendimento e lucro. Dessa forma, as ações de gerenciamento de resíduos estão gradativamente sendo incluídas nas estratégias de gestão empresarial.

A gestão de resíduos é um dos componentes mais importantes na gestão ambiental corporativa e consiste na atividade de elaborar políticas e planos integrados com o objetivo de prevenir a geração, obter o máximo aproveitamento e reciclagem de materiais, reduzir ao máximo o volume e/ou periculosidade dos resíduos gerados e definir as melhores soluções para tratamento e disposição.

Na indústria madeireira ainda predomina um modelo de produção fundamentado no princípio de que o meio ambiente fornece recursos ilimitados e que os impactos da indústria são mínimos, pois seus resíduos não são perigosos. A preocupação com o rendimento da produção, com o uso ou durabilidade dos produtos, com a origem da matéria-prima, com o uso de substâncias tóxicas e com a disposição dos resíduos ainda é insipiente. Assim, os modelos de gerenciamento de resíduos predominantes no setor são o tradicional e o de Final de Tubo (End of Pipe).

Resíduos de uma indústria madeireira dispostos sobre o solo. (Fonte: Germani, 2007)

No modelo tradicional o próprio empreendedor é o árbitro do desempenho ambiental de sua empresa. Esse modelo é caracterizado pela falta de preocupação e compromisso com a solução dos problemas ambientais relacionados à gestão de resíduos e as principais formas de solução para os resíduos são a dispersão no meio e a queima a céu aberto (Figura acima).

Os resultados do manejo tradicional dos resíduos madeireiros são o desperdício de matéria prima, a necessidade de sobre exploração das florestas para compensar as perdas na indústria, o baixo rendimento e a poluição. Essa forma de gerenciamento, atualmente, resulta ainda em restrição de acesso aos mercados consumidores que utilizam requisitos e barreiras ambientais na comercialização.

O modelo Legalista ou de Final de Tubo vem sendo utilizado pelo setor madeireiro desde a década de 1970, quando os aspectos ambientais relacionados à gestão de resíduos passaram a ser regulamentados pelo governo federal. Leis, decretos e normas definindo os tipos de resíduos e limites de emissão foram formulados e sanções administrativas e penais aplicadas pelos órgãos de fiscalização ambiental. Neste modelo o Estado é o árbitro da gestão de resíduos, com ações baseadas na fiscalização e aplicação de multas no caso de não conformidade.

Como resposta, o setor empresarial tem adotado procedimentos de tratar, concentrar, reduzir a carga poluidora e conter os resíduos em aterros licenciados (Figura abaixo). Entretanto, não são aplicadas estratégias de redução de geração ou aproveitamento dos resíduos.

Modelo de Final de Tubo (End of Pipe).

O resultado da aplicação desse modelo de gerenciamento é melhor que o anterior, mas ainda apresenta alguns problemas ambientais em função da geração de um grande passivo ambiental com riscos potenciais de incêndio e poluição do meio.

A partir da década de 1980 a sociedade civil organizada, através principalmente dos movimentos ambientalistas, assume o papel de direcionar as estratégias ambientais corporativas. Dessa forma vem contribuindo para aumentar a visibilidade sobre os problemas e riscos ambientais relacionados às atividades humanas; para o desenvolvimento de selos sócioambientais para reconhecimento das ações positivas na produção de bens e serviços; para o aprimoramento da legislação ambiental; e, para que o setor empresarial passe a incorporar uma série de ações articuladas entre si para o gerenciamento dos seus resíduos, como parte da sua responsabilidade sócio-ambiental e do seu modelo administrativo.

Esse modelo de gerenciamento de resíduos é, agora, recomendado pela Política Nacional de Resíduos Sólidos e denominado Modelo Integrado de Gerenciamento de Resíduos (Figura abaixo).

Modelo Integrado de Gerenciamento de Resíduos.

Trata-se de um modelo sistêmico, bastante abrangente e complexo, baseado em uma sequência lógica de ações visando:

a) Prevenção e minimização da geração;

b) Valorização dos resíduos;

c) Redução de volume e periculosidade, através de diferentes formas de tratamento;

d) Disposição final adequada dos rejeitos.

Na sua aplicação pelo setor industrial, esse modelo tem utilizado dos princípios e ferramentas da Produção mais Limpa, do Ecodesign, do Redesign, da Avaliação do Ciclo de Vida, da Logística Reversa, entre outros métodos de gestão ambiental para buscar a redução e valorização dos resíduos.

Nesse modelo de gerenciamento as ações começam na definição da linha de produtos e na seleção adequada de matérias-primas e seus fornecedores, de forma a se obter um maior rendimento industrial, uma menor geração de resíduos e uma redução no volume ou eliminação dos resíduos perigosos.

A análise do desenho de produtos e sua redefinição permite um maior aproveitamento da matéria-prima, com redução da geração. Assim como as ações voltadas à melhoria da manufatura e o emprego da logística reversa ao final do ciclo de vida dos produtos.

Esse modelo de gerenciamento é mais complexo que os anteriores. Entretanto, permite uma real análise dos problemas relacionados aos resíduos gerados por um empreendimento e a possibilidade de seleção e implementação de soluções definitivas, contribuindo para uma maior sustentabilidade nas cadeias produtivas.

Material retirado do Livro Gerenciamento de Resíduos na Indústria de Pisos de Madeira (Cap. 2 páginas 15 á 19)

2018-05-11T11:38:42-03:00